terça-feira, 29 de abril de 2008

Vislumbres da Mantiqueira

Exposição fotográfica de Lino Matheus: Vislumbres da Mantiqueira

A fotografia de Lino Matheus ( Foto: Beatrjs T'Kindt Lino Matheus), morador de Visconde de Mauá e amante da natureza e da Serra da Mantiqueira, descreve assim sua exposição de fotos:

"Estas fotos, técnicamente despojadas e bastante 'clássicas', não pretendem ser mais do que são: um olhar afetuoso, íntimo e momentâneo sobre as coisas singelas com as quais nos deparamos no dia a dia, ao sabor das nossas andanças pela Mantiqueira.

Elas sugerem que, ao nosso redor, à cada instante, vislumbres sutis da Natureza e da Vida Rural se oferecem aos nossos olhos, fazendo apelo à nossa sensibilidade, despertando emoções e revelando uma recôndita harmonia...

Dedico estas fotos à memória de meu filho Daniel (1985 - 2005), que aqui nasceu e que entre estas montanhas repousa."

A exposição Vislumbres da Mantiqueira aconteceu de 23 de dezembro de 2007 a 10 de fevereiro de 2008, no Centro Cultural Visconde de Mauá, na Vila de Visconde de Mauá, Município de Resende, RJ. E vale ser reapresentada para os que ainda não tiveram a oportunidade de contemplá-la. Escreva para o Blog Mantiqueira http://mantiqueira.zip.net/ e deixe o seu recado pedindo a reapresentação da exposição.

Visite o Blog Mantiqueira [ http://mantiqueira.zip.net/ ]

Caro Peregrino da Web,

Se você hoje está nos visitando, tenha certeza, algo entrelaçado nessa nossa infinita teia o trouxe até aqui. Portanto, não recue e se aconchegue à beira dessa fogueira que ilumina e aquece as noites mais escuras e frias do tempo e, sem receios, traga a sua prosa e conte para todos nós algo sobre o mundo e a vida, que é disso que todos estamos precisando.

O "Blog Mantiqueira" também é seu e o acolhe como o espaço afetivo da sua casa. Um espaço feito de palavras que movem as coisas, pessoas e seres.

Neste instante em que você acaba de chegar por aqui, Gaia, essa Terra azul e finita joga garrafas ao mar, como náufraga de uma "civilização" cujo modelo conspira permanentemente contra a sua (a nossa) vida. Lança mensagens ao infinito, quem sabe na esperança de alguém para recolher... Enquanto ainda é tempo.

Seja bem vindo, Peregrino, seja você quem for e nos conte a sua história!

Saudações!

Ítalo Bruno & Lino Matheus

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O AMOR COMO TRAVESSIA

Desde criança ouvia as pessoas falarem do amor. Ainda não sabia o que era esse enigma que tanto inquieta gerações no tempo e espaço. Embora não soubesse podia sentir a sua força e presença nos beijos e afagos dos meus pais. Era algo indescritível deitar em minha cama, nas frias e longas noites da infância e sentir que ali, pertinho de mim estavam aqueles que me davam toda a certeza de afeto e proteção: minha mãe e meu pai. E isto era o amor manifestado para mim, embora eu ainda não soubesse o que era esse algo que anda nas juras, choros, risos, gritos e gemidos de todos nós.

Estudava em colégio de padres Salesianos, em Sorocaba e, um dia, numa tarde de domingo, numa das missas, padre Martini falou, em sua homilia, sobre o amor. Leu na íntegra a Epístola de Paulo aos Coríntios, quando o apóstolo escreve acerca do amor. Lembro-me que fiquei impressionado e emocionado com aquelas palavras de efeito bonito, gostoso de ouvir, criando imagens em mim que acabei perseguindo por todo o meu tempo adiante. E eu saí de lá, daquela nossa pequena, mas singela igrejinha colegial com o firme intento de que era um amor assim que eu buscaria na vida para ser a minha mulher e a mãe dos meus filhos.

O tempo, em seu deslocamento irrevogável de pessoas, vidas, situações, coisas e lugares foi me levando para bem longe daquela tarde de domingo. Mas aquelas palavras iam comigo, guardadas no coração. Fui crescendo na perseguição do amor...

Tive encontros e desencontros, como qualquer pessoa. Muitas vezes chorei. Noutras sorri, como qualquer pessoa. Nunca tive medo de amar, tampouco de buscar incessantemente o amor e amei à esmo! Sempre em busca do amor. Mal sabia que o amor nunca se concretiza em sua interminável passagem e que quanto mais o procuramos mais nos desloca em seu rumo feito de sentimento e enigma. Assim, por algumas vezes encontrei o amor em meu caminho. Mas as palavras ouvidas naquela tarde antiga de domingo ainda ressoavam em meu coração... E eu sabia que aquele amor eu ainda não havia encontrado.

Até que na tarde mais triste de Paula eu a encontrei com a dor infinita que corrói diante da perda. A sua mãe estava morta e ela, alí, diante de mim, altiva como uma guerreira no embate com a Morte e com lágrimas no olhar. E me olhou com o olhar do tempo. E a reconheci. Era ela a mulher que sempre busquei. Era como se estivesse naquela tarde antiga de domingo ouvindo padre Martini falar sobre o amor. Curiosamente nas palavras de Paulo sobre o amor encontrei Paula, a mulher de todo o meu amar.

Daí em diante, tudo aconteceu muito rápido e o Destino nos foi favorável. Hoje estamos casados, teremos a nossa filha e o nosso filho. Temos a vida, por viver. Estradas. Veredas. Travessias. E a cada dia eu me surpreendo com essa mulher que para mim é tudo e que me olha, beija e afaga com o toque infinito da inquietação e da delicadeza. A ela dedico a minha força e o meu tempo de homem.

Eu te amo, Paula Maria. E escrevo estas palavras em teu blog [deixei escrito, nesta manhã, em seu blog http//pensamentosesentimentosaluap.blogspot.com/ ] como quem marca com o ferro em brasa a carne nua do papel digital, que é onde a palavra poética procura abrigo e costuma fazer morada.

Ítalo Bruno, teu Homem.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A Terceira Margem do Rio

Oco de pau que diz: eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz, risca certeira
Meio a meio o rio ri, silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz: risca terceira
Água da palavra, água calada, pura
Água da palavra, água de rosa dura
Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai,
Margem da palavra entre as escuras duas
Margens da palavra, clareira, luz madura
Rosa da palavra, puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida
O rio riu, ri por sob a risca da canoa
O rio riu, ri o que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi a voz das águas
Asa da palavra, asa parada agora
Casa da palavra, onde o silêncio mora
Brasa da palavra, a hora clara, nosso pai
Hora da palavra, quando não se diz nada
Fora da palavra, quando mais dentro aflora
Tora da palavra, rio, pau enorme, nosso pai

Milton Nascimento e Caetano Veloso

As leituras do Rosa, em suas veredas e vastidões de palavras em travessia nos ecos desta canção de Milton e Caetano fizeram nascer este meu blog onde a palavra é lavra diária no embate atritante do léxico com a linguagem produzindo efeitos do dizer...